Artigos, Destaques, Notícias › 21/06/2021

“Veja como ele o abraça!”

Por Pe. Maicon A. Malacarne

Luís Gonzaga viveu a grande epidemia da peste italiana no século XVI. Morreu com 23 anos, infectado pela doença. Era herdeiro de uma família muito poderosa e renunciou todos os títulos e honrarias para cuidar dos enfermos, das vítimas da peste. Um dos enfermeiros da época, conforme narram os livros de memória, ficou impressionado com Luís: “veja como ele os abraça, é como se carregasse no colo o próprio Jesus”. Ainda: “como pode um dos Gonzagas ser reduzido a isso?” Outro enfermeiro que ajudava a cuidar dos doentes olhando para Luís conseguia apenas dizer: “é louco!” Hoje é dia de São Luís Gonzaga, esse jovem jesuíta patrono da juventude e dos seminaristas.

Luís é um ícone do cuidado. Quem cuida é capaz de colocar a sua vida no lugar da vida do outro e da outra. É quem aprende ultrapassar limites. Quando direcionamos a vida no caminho do amor e do serviço a única medida possível é não ter medidas para fazer o bem.

Hoje, ao ultrapassarmos as 500 mil vítimas dessa pandemia no Brasil, a expressão ganha outros contornos: “veja como ele o abraça”. É o Luís em tantos outros. São pais, mães, avós, tios, filhos, irmãos que ao redor de túmulos abraçam o vazio da despedida rodeado por tantas perguntas sem respostas. É o abraço de quem não tem mais ninguém, numa orfandade impossível de ser imaginada. É o abraço de quem só consegue chorar e fazer das lágrimas a maior oferta. É o abraço de profissionais da saúde que entre um bip e outro assumem a generosidade e o cansaço de tantos turnos, bem como o consolo de quem tem somente eles. É o abraço de quem limpa, de quem higieniza, de quem veste, de quem troca, de quem alimenta, de quem faz de tudo para que a vida celebre a vitória. É o abraço de quem enche os balões para comemorar mais uma alta do hospital. É o abraço de quem organiza rifas, vaquinhas online, arrecadações para salvar alguém. Essa pandemia tem feito perceber que há muitas, muitas formas de abraçar a vida e não ser companheiro do negacionismo, daqueles que ainda acham que cuidar da vida é um absurdo.

“Veja como ele, veja como ela o abraça…” Que bom se um dia, por puro amor e puro serviço, pudermos também nós sermos considerados dignos dessa expressão.

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