Destaques, Notícias › 12/03/2024

QUARESMA: Conversão e Justiça

O tempo mais importante do calendário celebrativo da liturgia católica é sem dúvida o ciclo pascal. Este ciclo compreende a quaresma, as festas pascais e o tempo pascal até pentecostes.

Os domingos da quaresma nos recordam os 40 anos do povo de Deus no deserto (cf. Livro do Êxodo), os 40 dias que o profeta Elias preparou para a missão e os 40 dias de deserto em que Jesus também se preparou para a missão (cf. Marcos 1,12-15). É um tempo que nos convida a um contato mais íntimo com o Senhor na oração pessoal, na escuta da sua palavra, na celebração com a comunidade e na solidariedade para com os marginalizados, os amigos de Jesus. A atitude chave é a conversão, voltar-se para Cristo para viver na justiça do seu reino.

O tempo da quaresma tem início na quarta-feira de cinzas e vai até a quinta-feira santa pela manhã. Nos cinco domingos, a celebração da palavra nos convida a olhar para o Senhor, escutar o que Ele diz e perceber na sua ação o melhor modo de estar a serviço da vida e da esperança. Na dinâmica do ensinamento de Jesus, a comunidade celebrante se prepara para a grande celebração da Páscoa.

Na tradição da Igreja, este tempo era reservado para a preparação dos catecúmenos que se preparavam para receber o batismo na noite da Páscoa. Em nossos dias, é aconselhável que se algum jovem ou adulto quer ser batizado seja preparado numa dinâmica própria que vai se realizando a cada domingo.

Duas celebrações se destacam neste período: a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Iniciar a quaresma com o sinal das cinzas é resgatar uma antiga tradição do povo hebreu que nas horas de extrema agonia cobria a cabeça com cinzas e se vestia com roupas estranhas para manifestar publicamente sua dor pelo afastamento de Deus e o desejo de retornar ao caminho de Deus: a justiça e o direito. Os profetas apregoam a vontade do Senhor e exortam o povo para a verdadeira penitência e o arrependimento dos pecados contra o Senhor (cf. Jeremias 6,26; Ezequiel, 27,30; Isaías, 58).

O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor marca o início da preparação imediata para celebrar a Páscoa. Antigamente eram celebrações distintas. Geralmente celebrava-se pela manhã a benção dos ramos com a procissão, recordando a entrada de Jesus em Jerusalém (cf. Marcos 11,1-11) e na parte da tarde, celebrava-se então a Paixão do Senhor proclamando o evangelho e celebrando a eucaristia.

No Brasil, toda a Igreja é chamada a uma conversão comunitária para a realidade proposta pela Campanha da Fraternidade, quase sempre levando-nos a perceber as situações de injustiças que levam-nos a nós e a nossa sociedade a distanciarmos do projeto de Deus manifestado em Jesus Cristo. Ao propor um tema para a reflexão e a solidariedade das comunidades cristãs, o que se pretende é fazer com que se favoreçam atitudes novas, de conversão, que evidenciem a possibilidade de um modo novo de vida que tem sua base no evangelho de Jesus.

Em muitas comunidades, neste tempo, se privilegiam as celebrações penitenciais. Nelas, se explicitam ainda mais o desejo das pessoas, tanto a nível pessoal como comunitário, de assumirem atitudes novas diante do Senhor e do seu reino. Não adianta um jejum vazio, uma abstinência de carne sem sentido, uma penitência de aparência, uma oração de troca, uma solidariedade interesseira. O próprio Senhor Jesus nos educa neste sentido (cf. Mateus 6,1-6.16-18).

Que a contemplação da vida de Jesus nos domingos da quaresma nos indique o verdadeiro caminho da Páscoa. Com o Senhor queremos “passar” da injustiça para a justiça, do abandonado para a acolhida, da guerra para a paz, da discriminação para a valorização do diferente, da discórdia para a unidade, do ódio para o amor, do egoísmo para a solidariedade, da ofensa para o perdão que recria a vida e devolve-nos a alegria, qualidades dos que põem no Senhor Ressuscitado a sua esperança.

Pe. Eliomar Ribeiro, SJ

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